terça-feira, 29 de julho de 2008

Invincible: Shapeshifters

Voltando às femcees - a Amanda Diva fez sucesso -, apresento agora Invincible, uma emcee/ativista de Detroit, extremamente talentosa e dona de uma incrível habilidade lírica, que combina técnica impecável a rimas inteligentes. Como eu disse acima, além de emcee, ela é ativista e faz trabalhos sociais nas escolas de sua cidade, além de participar de uma organização de ajuda aos palestinos. Com esse currículo, dá para ver que a menina não está de brincadeira. Shapeshifters é seu álbum de estréia, e conta com produções de Black Milk e Waajeed, do Platinum Pied Pipers, sendo recebido com elogios quase unânimes por toda a crítica especializada nos EUA.

E, de fato, o álbum merece todos os elogios. Invincible é uma emcee incrível, escreve muito bem e discorre sobre temas interessantes. Ela tem um daqueles flows complexos, dificílimos, praticamente impossíveis de serem acompanhados - lembram de AZ no começo da carreira? É no mesmo estilo. Faixa após faixa, ela segue quebrando tudo, rimando como se dependesse daquilo para sobreviver. Quanto aos tópicos, ela varia desde a situação da Palestina, críticas à sociedade americana, relacionamentos e problemas de Detroit. O mais incrível é que, mesmo com uma escrita complexa, ela ainda consegue passar sua mensagem perfeitamente - algo digno de grandes emcees.

Um ponto a favor de Invincible é o seu bom gosto para os beats. O álbum é composto majoritariamente por beats acelerados - o que combina muito bem com o flow dela - e sons graves, embora não totalmente sombrios. Looongawaited é a introdução em grande estilo do álbum, um beat agressivo, com caixas fortes, enquanto Sledgehammers possui um sample interessante, embora um pouco repetitivo. People Not Places, a tal faixa sobre a Palestina, traz um sample de instrumentos típicos da região, o que torna o beat muito mais significativo. No Easy Answers, na qual ela discute relacionamentos, tem pianos frenéticos e bateria pesada, num dos melhores beats do álbum. Por fim, Deuce/ypsi é um beat extremamente complexo, com loops vocais, riffs de guitarra e vários outros elementos indo e vindo durante a faixa.

Uma das coisas mais legais de escrever um blog como o Boom Bap é descobrir artistas talentosos e desconhecidos, e "apresentá-los" para um número razoável de pessoas. Invincible criou um álbum MUITO bom, com tudo o que é necessário: bons beats, rimas excelentes, flow perfeito e mensagem relevante. É de mulheres como ela, Jean Grae e Amanda Diva que o rap precisa, não aquelas que mantém-se no jogo graças a dotes físicos, afinal de contas, como a própria Invincible diz, ela quer "ser uma das melhores da história, ponto final, não apenas uma daquelas com peitos grandes e menstruação".

Invincible - Shapeshifters
1. State of Emergency Intro (prod. Black Milk)
2. Looongawaited (prod. Vaughan T of LABTECHS)
3. Sledgehammer! (prod. 14KT and Haircut of LABTECHS)
4. People Not Places w/ Abeer (prod. Vaughan T of LABTECHS)
5. Spacious Skies (prod. Apex)
6. No Easy Answers (prod. 14KT of LABTECHS)
7. Deuce/Ypsi w/ Buff1, SUN, PL (prod. Djimon and Jayhask, co-producer Belief)
8. Recognize w/ Finale (prod. Black Milk)
9. Ransom Note w/ ANOMOLIES (prod. Belief)
Grace Shift interlude featuring Grace Lee Boggs
10. ShapeShifters (prod. Waajeed of bling47)
11. Ropes w/ Tiombe Lockhart (prod. Knowledge)
12. Keep Goin w/ Wordsworth and Indeed (prod. Waajeed of bling47)
13. In The Mourning (prod. Waajeed of bling47)
Bonus: Locusts w/ Finale (prod. House Shoes)

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domingo, 27 de julho de 2008

MC Wiza: Sempre Alerta

MC Wiza é um emcee de Rio das Ostras, aqui no Rio de Janeiro, buscando seu espaço no rap há pouco mais de dez anos. Ele faz parte da posse Família P.D.F.(Pretos de Fé), da Baixada Fluminense, além de já ter trabalhado com nomes como Arthur Moura, Kapella e Dudu de Morro Agudo. Sempre alerta é seu CD demo, visando a promover sua música e se preparar para o lançamento do álbum completo.

De cara, dá pra notar em Wiza uma grande confiança no rap e suas possibilidades, algo muito parecido com antigos emcees, que realmente levavam a sério o rap, e acreditavam no seu poder de mudança. Se, por vezes, essa crença flerta mais com o romantismo do que com a realidade, ainda assim é louvável a confiança do cara. Outras semelhanças com a Velha Escola nacional estão aparentes também no tema das letras e no estilo das rimas, simples e focadas na denúncia dos problemas sociais brasileiros, mas ainda assim tentando trazer uma mensagem positiva. Entretanto, por vezes, os temas soam repetitivos, como no caso de Sempre Alerta, na qual ele relata sua experiência numa abordagem de policiais.

As narrativas em primeira pessoa de Wiza, entretanto, tornam-se mais envolventes graças aos bons beats do álbum. São simples, pesados e ainda assim dotados de um vigor impressionante, fazendo uma bela mistura entre o antigo e o novo no rap. Samples vocais se misturam às caixas pesadas de outrora. Em Poder Representar, uma voz acelerada no começo da faixa dá o clima da música, enquanto em A Correria Não Pára, o beat rápido e simples casa perfeitamente para que Wiza e seu parceiro Vanone Rapman troquem versos sobre vários problemas cotidianos, como desemprego, e esperanças para o futuro. Outro destaque é o remix de Sempre Alerta, com um sample que os fãs do Wu-Tang Clan vão reconhecer rapidamente.

Enfim, Wiza pode não oferecer nada muito diferente do que já foi feito no Brasil, nem estar em um nível altíssimo, mas tem uma paixão no que faz e uma fé no rap que são realmente admiráveis, principalmente em tempos que muitos acham que o Hip Hop está morto. Não, não está. Ele ainda corre nas veias de jovens e, mesmo que não seja o fator principal para que mudem de vida, ainda é o catalisador para que eles busquem um caminho melhor.

MC Wiza - Sempre Alerta
1.Brasil de decadência
2.Sempre alerta
3.A correria não para
4 .Poder representar
5 .Sempre alerta(remix)

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Contato:
wiza_165@hotmail.com

sexta-feira, 25 de julho de 2008

GZA: Alphabets (ProTools single)

Este é o primeiro single do novo álbum do GZA, chamado ProTools. Aqui, ele rima sobre o beat minimalista de True Master, composto por timbres sujos, um loop de piano e um sample vocal esporádico. Ainda assim, o instrumental funciona - remete inclusive à antiga sonoridade do Wu. Além disso, GZA soa tão interessado quanto em seus melhores momentos da carreira, ao contrário das últimas músicas, onde ele parecia meio que com sono. A letra, como sempre, é muito boa - destaque para o refrão, que contém 30 palavras, cada uma começando com uma letra do alfabeto.

ProTools deve sair no dia 19 de agosto, e já foram anunciados a capa do álbum(ali em cima) e a tracklist, que eu vou colocar aqui embaixo, com os devidos produtores e participações especiais.

Download : GZA - Alphabets

1. Intromental
produzida por : Dreddy Kruger

2. Pencil Feat. Masta Killa & RZA
produzida por : Mathematics

3. Alphabets
produzida por : True Master

4. Groundbreaking Feat. Justice Kareem
produzida por : Bronze Nazareth

5. 7 Pounds
produzida por : Black Milk
Intro produzida por : Preservation for Preserved Productions, LLC

6. 0% Finance
produzida por : Jose “Choco” Reynoso

7. Short Race Feat. Rock Marcy
produzida por : Arabian Knight

8. Interlude

9. Paper Plate
produzida por : RZA

10. Columbian Ties Feat. True Master
produzida por : Bronze Nazareth

11. Firehouse Feat. Ka
produzida por : Rock Marcy

12. Path of Destruction
produzida por : Jay Waxx Garfield

13. Cinema Feat. Justice Kareem
produzida por : Arabian Knight

14. Intermission (Drive In Movie)

15. Life Is A Movie Feat. RZA & Irfane Khan-Acito (of Outlines)
produzida por : RZA
(Bonus Live Performance)

16. Elastic Audio
Live Performance @ The Parish in Austin, TX
5/31/2007 Featuring FYRE Department & Dreddy Kruger

Almighty: Original S.I.N.

Este é o milésimo supergrupo formado por afiliados do Wu-Tang Clan. Desta vez, Killah Priest - sempre ele - e Bronze Nazareth se juntam a C-Rayz Walz e aos desconhecidos M-80 e Son One para formar o Almighty, com a proposta de trazer - também pela milésima vez - o velho e bom som da Nova Iorque dos anos 90, ou seja, o antigo som do Wu. O disco funciona realmente como um do Wu, com membros dividindo faixas, às vezes rimando todos, outras apenas em duplas, com alguns convidados, etc. A produção, em sua maioria, ficou por conta de Bronze Nazareth, com nomes como Canibus e Keith Murray participando no microfone.

Basicamente, a promessa de dar aos fãs aquele tradicional som pesado é cumprida, graças ao talento de Bronze Nazareth nos beats. O cara tem evoluído a cada dia mais e, hoje, é talvez o mais consistente e talentoso de todos os afiliados do Wu. Em Original S.I.N., seus beats são elegantes e ao mesmo tempo pesados, combinando uma variedade incrível de samples, notadamente strings e metais, que deixam o som com uma pitada de soul e, ainda assim, meio épico. Preste atenção em beats como Handle The Heights, com um violino sensacional e uma batida que te induz a balançar a cabeça ao ritmo dos emcees, ou Daylight, praticamente um som cinematográfico, com os emcees falando sobre os últimos minutos de vida de alguém. De qualquer forma, é Dead Flowers o maior destaque, um beat pesado com uma combinação de samples vocais com violinos refinadíssimos que entra, desde já, na lista de melhores músicas do ano.

A química entre os emcees pode não ser tão perfeita, mas ainda assim eles se entendem de forma aceitável, principalmente mantendo-se no mesmo tema durante as faixas, como em Keep Hustlin', uma mensagem de incentivo, ou Planet Peril, um exercício poético. Enquanto Killah Priest mantém-se consistente, são C-Rayz Walz e Bronze Nazareth os caras que mais surpreendem no disco, o primeiro pelo flow e pelo estilo de rima impecáveis, o segundo pelas letras, cheias de duplo sentido e metáforas. Há de se destacar ainda o trabalho do DJ JS-1, com scratches certeiros, em especial em Soul Position, preste atenção no sample de uma mulher gemendo sendo arranhado por ele.

Mesmo longe de ser um clássico, este álbum vai com certeza agradar todos os fãs fiéis do Wu. A produção de Bronze Nazareth e as performances sólidas dos emcees garantem bons momentos para o álbum e, de quebra, oferecem duas ou três músicas que estão entre as melhores do ano. Mais do que trazer de volta o rap dos anos 90, Original S.I.N. oferece, sim, beats pesados, rimas inteligentes e bons emcees, ou seja, bom rap, seja de qual época for.

Almighty - Original S.I.N.
01: Wise Words Roll (Intro)
02: The Saga Begins
03: Handle the Heights (feat. Canibus & Keith Murray)
04: Come to Life Faster
05: Obey (The Statesmen) (feat. Planet Asia)
06: Soul Position (feat. Phillie & Kevlaar 7)
07: Daylight (feat. Kevlaar 7)
08: Planet in Peril (feat. Holocaust)
09: Interlude #1
10: Killa Bee Swarm (feat. Timbo King)
11: Keep Hustlin' (feat. Doe Boy)
12: Think Piece
13: Top Hat Rap
14: Interlude #2
15: Rising Sunz (feat. Born Sun)
16: Dead Flowers (feat. 60 Second Assassin)
17: Now or Never (feat. Solomon Childs)
18: The Almighty

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terça-feira, 22 de julho de 2008

Reks: Grey Hairs

Reks é um emcee de Boston, e um dos novos protegidos do lendário DJ Premier. Amigo de longa data do produtor Statik Selektah, outro que tem trabalhado com o ex-produtor do Gangstarr. Este é o segundo álbum do cara, que chegou a fazer relativo sucesso com seu álbum de estréia, mas depois ficou alguns anos sumido. Em Grey Hairs, Reks conta com produtores como Premier e Large Professor, além de Statik Selektah, que além de colaborar com beats, também produziu executivamente o projeto.

Na verdade, é Selektah quem produz a maioria do álbum, e acaba falhando na tentativa de diversificar as faixas: o maior problema do disco são os beats um tanto repetitivos, em certos momentos. Enquanto Reks faz um bom trabalho no microfone, com boas rimas e conceitos criativos, por vezes a parte instrumental não consegue manter-se no mesmo nível. Talvez o que contribua para que o álbum torne-se repetitivo é o número de faixas. São 20 músicas, sendo que, caso algumas fossem cortadas, teriam um álbum realmente consistente.

Apesar dos altos e baixos na produção, como dito acima, Reks é um emcee muito talentoso e tem uma performance bastante sólida. Em All In One(5 Mics), ele mostra que estudou as grandes lendas do rap, imitando o flow de Tupac, Notorious BIG, Big L e Big Pun, um em cada verso. Mas não é só mimetizando levadas lendárias que ele mostra qualidades. Em Say Goodnight, ele se junta a Premier para levar os ouvintes até os anos 90, ou como ele diz, "Boom-bap da Costa Leste, de manhã até a noite". Em Stages, ele fala de cada etapa do hip hop, sobre a as caixas pesadas e scratches de Large Professor - outro bom conceito, embora os Cunnynliguists tenham feito algo parecido no single Seasons. Outros destaques são How Can It Be, um belo beat com um sample vocal que é a estrela da faixa; a tranqüila Black Cream, na qual Reks fala sobre o estado do gueto, e a radiofônica Telescope, com um refrão cantado e outro beat tranqüilo, bem relaxante.

No geral, é um bom álbum, embora seja longo demais. Ainda assim, Reks oferece boas faixas e conceitos interessantes. Além do mais, é sempre bom ouvir um beat novo de lendas como DJ Premier e Large Professor. Só por essa atitude, inexistente entre os emcees que outrora fizeram nome graças a beatmakers lendários, Reks já merece respeito.

Reks - Grey Hairs
01. Grey Hairs
02. The One
03. Say Goodnight
04. How Can It Be
05. Stages
06. All In One (5 Mics) (feat. Lil Fame)
07. Next 2 Me
08. Money On The Ave (feat. Skyzoo)
09. Black Cream (The Negro Epidemic) (feat. Big Shug)
10. Love Sweet Misery
11. Rise
12. Telescopes (feat. John Hope & Lucky Dice)
13. Day 2
14. Premonition (feat. Termanology & Consequence)
15. My Life (feat. Paula Campell)
16. Cry Baby
17. Long While
18. Big Dreamers (Lawtown Remix) (feat. Termanology & Krumbsnatcha)
19. Isiah
20. Hidden Bonus Track

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Link consertado!

Vídeo da faixa Say Goodnight:


Vídeo da faixa The One:


Vídeo da faixa Big Dreamers:

domingo, 20 de julho de 2008

Doap Nixon: Sour Diesel

Doap Nixon é um emcee integrante do coletivo Army of the Pharaohs, capitaneado pelo gordinho mais raivoso do rap, Vinnie Paz, do Jedi Mind Tricks. Depois de brilhar no último álbum do grupo, Ritual of Battle, agora Doap lança seu álbum de estréia, produzido executivamente pelo emcee do Jedi, com produções de nomes como Apathy, Snowgoons, Stu Bangaz, Undefined e Stress.

Como bom integrante do AOTP, Nixon traz para Sour Diesel a fórmula básica do coletivo: beats simples e pesados combinados com rimas agressivas e geralmente voltadas para o battle rap. A idéia de trazer de volta à cena o velho rap do começo dos anos 90 é elogiável, mas Doap não triunfa completamente no álbum, a princípio por alguns beats serem pouco inspirados, ou simplesmente não terem nada que os faça se destacarem. Este problema também acomete Doap, que mostra um trabalho bastante consistente no microfone, embora não tenha nenhuma performance destacada.

Na verdade, o que parece é que a fórmula já está desgastada. Particularmente, o segundo álbum do coletivo, que seguiu rigidamente o mesmo binômio battle rap+beats pesados, soou um tanto quanto limitado, justamente por não oferecer variedade. Ainda assim, Sour Diesel oferece algumas boas músicas que certamente merecem espaço no MP3 player: The Wait Is Over tem a presença do padrinho Vinnie Paz e um riff de guitarra misturado a strings no fundo; Heaven Is Calling tem a ajuda de um vocal melódico, uma letra mais introspectiva e belíssimas strings mais presentes no beat. Por fim, Everything's Changing tem um vocal acelerado que dá o tom da faixa, além de um beat picotado ao melhor estilo Premier, enquanto Warning Shot recorre novamente a riffs de guitarra para dar o peso necessário à letra que critica o estado atual do rap.

A estréia de Doap Nixon é certamente promissora, mas é necessário que ele abandone velhas fórmulas já esgotadas pelo seu próprio coletivo para alcançar maior sucesso. Ele tem boas rimas e a noção exata do gosto dos fãs do verdadeiro rap. Basta adicionar mais criatividade nos conceitos para que crie um álbum de grande qualidade. Ainda assim, Sour Diesel é um bom esforço, altamente recomendável para os fãs de Army of the Pharaohs e seus integrantes.

Doap Nixon - Sour Diesel
1. Intro
2. Behind the music
3. Tis the season ft. Nature & Good Money
4. The wait is over ft. Reef The Lost Cauze & Vinnie Paz
5. Heaven is calling ft. Cynthia Holliday
6. Everything’s changing
7. Just venting (skit)
8. Get dirty ft. reef the lost cauze & demoz
9. Warning shot ft. king syze, crypt the warchild, planetary & king magnetic
10. Don’t blame us ft. n.i.z.
11. Respect my g. ft. good money
12. Gangsta ft. demoz, reef the lost cauze & planetary


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sexta-feira, 18 de julho de 2008

GZA: Paper Plate (50 Cent diss)

Eu sou totalmente favorável a ignorar o 50 Cent e todos seus semelhantes em blog comprometidos a trazer boa música, mas desta vez não pude escapar. Um dos maiores emcees - emcee, não rapper! - que o mundo já teve o prazer de escutar, resolveu mostrar para o autor de "clássicos" como Candy Shop o que é realmente talento. Sem gritar, sem usar força, apenas com rimas inteligentíssimas, mostrando que, apesar de a época de ouro do Wu-Tang Clan já ter passado, ainda é preciso respeitar as verdadeiras lendas. A música em si não é nada de mais, mas a letra é espetacular. Aproveitem, e relevem os possíveis erros na tradução, porque o GZA é um cara muito complexo nas rimas, é bem difícil traduzir as letras dele.

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Artista: GZA
Álbum: Pro Tools
Música: Paper Plate - Placa de Papel

[ Intro ]
Eu vi uma criança, uma noite em um show,
que tinha um logo do Wu-Tang no rosto
digo, uma tatuagem grande, e mais um monte de coisa esculpida
você não vê isso toda hora
digo, eu nunca vi um logo da G-Unit no rosto ou no braço de alguém
tá ligado, não to dizendo que não exista
mas, hum, eu diria que é tipo uma legião de fãs própria
tá ligado, mas nós somos apenas pessoas comuns
digo, eu vejo a mim mesmo como uma pessoa comum

[ GZA ]
Você já viu alguém que anda com Mayweather e rima como Ricky Hatton?1
e acaba com qualquer coisa que você jogar, eu estou lutando por um milhar
você tem alguns refrões bons, mas nenhum verso pesado
leve eles embora junto com seus cadernos e livros escrotos
eu já entendi, você ficou rico roubando os malucos da indústria
copiando um, roubando algo do seu inimigo
nunca tente brincar com o mais foda do pedaço
você pode se fuder e tomar metade dos esteróides de uma vez
o suficiente para você aparecer como na Vogue, na capa da GQ
só tá faltando a blusa apertada, mano, você tá ligado
pare de beber esta fórmula, 50
eles querem calor? Eu darei a eles, queimado e de boa qualidade
você rima muito pequeno para encarar o God, então aumente um pouco
especialmente esses raps superestimados, que são comprados
eu te disse que se eu fizer chover, vai haver um chuvisco eterno
pedaços de trabalho ilegal são cortados por lâminas afiadas
um verso acaba com sua espinha e destrói o seu espírito
não importa, você ainda compra letras apenas pela janela2
se você for realmente um cafetão, coloque suas putas na zona
e se aqueles forem realmente soldados, dê a eles armas maiores para segurarem
quem atirou em você? Você não tem pessoas suficientes contigo
você age como um policial, mas fala como se fosse um mafioso
aquela droga3 que você tá vendendo, sangramentos de água
cortes demais nele, os viciados não cheiram isso
eu mato a Pulgas Unit4 com pesticidas, você pode pegar
os seus melhores ghostwriters, chame todos eles para testemunharem
você já foi picado por milhares de abelhas?
500 abelhas assassinas, fazendo barulho e prontas pra tudo
açoitado por correntes cubanas5, cortado por espadas líquidas6
arrasado pelo Ironman7, até nós acabarmos com suas cordas vocais
você não é nada além de um porco no cobertor
cabeça de sapo, a última comida do cardápio
toda essa merda de rap que está presa no seu colo
apenas significa: fique longe dessa merda fraca que você está fazendo
manos com os dentes sensíveis fiquem longe da loja de doces
você não precisa algemá-los para ver as calças caindo
alguns gatos estão procurando por um rato com queijo8
tenha algo para jogar, todos eles se desviam de bastões com facilidade
vai ficar com o seu traseiro quebrado, enquanto faz a sua dança ridícula
deixa uma nota de agradecimento, pelas muletas que o Rule deixou
rap pró-ativo, você sabe que eles colocam droga no sorvete
você está tendo alucinações, você vê o Kanye no seu sonho
e ae, eu não fumo PCP9, eu desenterrei Smokey and the Bandit10
com o pincel eu atinjo a tela
eu ando sobre seus crocodilos e lagartos, ressuscito o lince11
que foi morto pelos seus macacos, você está deixando-os congelados
você quer ser um policial, até andar pelo D-Block12
e ser transferido, eu abro suas asas como se fosse um pavão
eu já era um emcee, quando você estava em Nutville
em turnê mundial, enquanto você estava aprendendo a enrolar baseados
dez anos depois, mas eu rimo como se tivesse 21 anos
diretamente de Medina13, mas ainda a massa de muitos sóis
com supernova, lançando raios gama
e eu vou finalizar isso, só porque eu perdôo primeiro, qual foi?

1: Mayweather e Ricky Hatton são boxeadores que se enfrentaram, com vitória para Mayweather.
2: "window shop for lyrics", uma referência à música de 50 Cent, "Window Shop".
3: jogo de palavras com "yayo", que significa tanto droga, ou llelo, quanto o parceiro de 50, Tony Yayo.
4: Pulgas Unit, em alusão ao nome do grupo, Gorillas Unit
5: tradução livre para Cuban Linx, clássico do Raekwon
6: tradução livre para Liquid Swords, clássico do GZA
7: álbum clássico do Ghostface Killah
8: "cheese" signifca tanto queijo, quanto dinheiro, na gíria, daí o duplo sentido
9: uma droga sintética, bem pesada
10: um antigo filme americano, não vi nenhuma ligação mais relevante
11: gator/crocodilo é uma gíria para maconheiros, lizard/lagarto é uma gíria para um cafetão falido, e lince, a princípio, não tem nenhuma ligação aparente.
12: grupo de Nova Iorque encabeçado por Jadakiss, que também tem problemas com 50 Cent.
13: gíria para se referir ao Brooklyn

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Amanda Diva: Life Experience

Agora falando de femcees, as mulheres com talento suficiente para estar no jogo do rap sem apelações, apresento Amanda Diva, uma emcee, poetisa, cantora e jornalista, que tem feito bastante barulho ultimamente, trabalando com nomes como Q-Tip e DJ Kay Slay. Ela inclusive já participou de um concurso de poesia na MTV, apresentando a poesia que, mais tarde, se tornaria em 40 MC's, um dos grandes destaques deste álbum.

Na verdade, Life Experience é um EP de estréia da menina. Aqui, apesar do rap predominar, ainda há espaço para Amanda cantar e se aventurar na spoken word, uma espécie de declamação de poesia, característica de nomes como os veteranos The Last Poets. A produção é discreta, delicada, com um leve toque de R&B, deixando espaço suficiente para Amanda mostrar sua habilidade e disposição - o que não tem nada a ver com a dança do Créu.

Em Supa Woman, ela usa um quê ragga para homenagear as mulheres batalhadoras; na já citada 40 MC's, uma das melhores faixas não só do álbum, mas do ano, ela usa o bom humor para criticar a saturação do mercado do rap, além de dar leves tapas na sociedade em geral e traçar um rápido panorama do gueto, tudo sobre um sample de piano irresistível:

"Esta rima é um pouco mais profunda, sobre os 40 emcees
que são vistos em cada esquina da cidade de Nova Iorque
eles dizem que rimam pelo amor e pela fama
tratando nossa cultura como se fosse um jogo
(...)
Existiam 40 emcees no meu bairro, três tiveram filhos
um foi preso, o outro foi baleado"

Continuando a saga em descrever o gueto, Windows Over Harlem é uma viagem ao Harlem pelos olhos de Amanda, que ora canta, ora rima, sobre um beat tranqüilo, meio soul, meio R&B, mesma atmosfera encontrada em Brown Girl, na qual ela fala diretamente para as meninas negras. Para finalizar, I Know(Better World) é a faixa mais "rap" do disco, um beat acelerado e pesado mesclado a samples discretos, enquanto Crazy World é uma espécie de freestyle, com alguém fazendo o beat a base de batucadas, uma forma de bem original de fechar o disco.

Definitivamente, Amanda Diva mostra ter lugar na nata não só do rap, como da música em geral, graças à versatilidade e capacidade tanto de rimar, quanto cantar. Vale dizer que ela rima e canta em todas as músicas do álbum. Além disso, possui boas rimas e preocupação em falar de coisas importantes. Olho na menina.

Amanda Diva - Life Experience
1. Life Experience Intro
2. Bright Lights
3. Supa-Woman
4. 40 MC’s
5. Windows Over Harlem
6. Brown Girl
7. New School Old School Interlude
8. I Know (Better World)
9. Life To Love Outro
10. Crazy World (Bonus Track)

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Vídeo da faixa 40 MC's:


Vídeo da faixa Supa Woman:


Vídeo da faixa Windows Over Harlem:

domingo, 13 de julho de 2008

Rashid Hadee: Dedication

Rashid Hadee é um emcee/produtor de Chicago, ainda emergente no underground americano, também integrante do grupo Chapter 13. Ele é um dos poucos caras tão bons no microfone quanto nos beats, com um estilo de produção bastante inspirado no 9th Wonder - principalmente os primeiros trabalhos - e com rimas falando sobre o cotidiano.

Dedication é o primeiro álbum solo do cara, e é de uma produção impecável. Os beats de Hadee são realmente muito parecidos - no estilo - com os do ex-produtor do Little Brother - não à toa, ele produziu um instrumental para o último álbum do grupo. Ainda assim, não é o caso de taxar Hadee como um plagiador, até porque a qualidade do cara é visível, embora os mesmos elementos de Wonder estejam lá: samples vocais, baixos filtrados, batida seca. A diferença está no uso de mais samples de jazz por parte de Hadee, e uma tendência a criar beats mais tranqüilos, mantendo a mesma atmosfera durante todo o álbum.

Como emcee, Rashid também mostra qualidades, como um flow que casa perfeitamente com seus beats, tarefa facilitada, talvez, por ter sido ele o próprio produtor - seria interessante vê-lo rimar em beats de outros produtores. Além disso, é bem consistente nos conceitos, sempre tratando de temas cotidianos, com os quais qualquer um pode se identificar. Entre os destaques de um álbum sem falhas, estão Watchin' My Moves, na qual ele fala sobre como ele está se preparando para entrar no jogo do rap, sobre strings sutis e um baixo preguiçoso; Been So Long vê Hadee picotar um sample de saxofone de forma exemplar, o que proporciona um clima jazzy à faixa; Demonz, um tratado sobre a psiquê de Hadee, recorre novamente ao minimalismo de sample vocal e baixo, enquanto From 6 to 7, tem um clima nostálgico e outro sample vocal muito bem sacado.

Com este álbum, Rashid Hadee prova ser um dos mais talentosos artistas emergente no rap atualmente. Além de produzir seus próprios beats, ele ainda rima com propriedade, algo raro. Disco recomendadíssimo, sem faixas ruins. Todas são muito boas, sem exceção. Quem gosta de 9th Wonder e seus beats, com certeza vai apreciar bastante este trabalho.

Rashid Hadee - Dedication
01. Dedication Intro (My Everyday Life)
02. Watchin' My Moves (Ft. Young Valentine)
03. Been So Long
04. Surrender (Ft. Skinny Kenny)
05. Dedication
06. Demonz
07. From 6 To 7
08. Time Machine
09. Remembrance
10. Makin' It Right
11. Mercury Retrograde
12. Rebirth (Ft. Young Valentine)
13. Deadly Weapons'04 (Ft. Young Valentine)
14. Wordz Can't Express
15. Missing Pieces
16. All Day (Ft.. Young Valentine & Skinny Kenny)
17. Dedication Outro

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Vídeo e Tradução: Nas - Sly Fox



Vídeo novo do Nas. Sly Fox é uma música que ataca a Fox News, emissora de televisão dos EUA. Eu não sei ao certo o que desencadeou esse ataque do Nas, mas, ao que parece, é uma emissora racista e ligada ao governo Bush. Além disso, tem toda a questão da manipulação das massas, sempre presente nesses grandes conglomerados de comunicação. Detalhe, na tradução, é que ele sempre faz um jogo de palavras com fox, que é tanto a tradução para raposa, quanto o nome da emissora.

Artista: Nas
Álbum: Untitled
Música: Sly Fox - RAPOSA ASTUTA

[ Introdução ]
Então nós olhamos o que está acontecendo - esta é uma agressão EXTREMA
eu também estou ouvindo sobre isso em todos os lugares
está nas ilhas, no continente, está aqui: está em todos os lugares!
e isso é, se você quiser, uma GUERRA - um ataque maluco

[ Verso 1 ]
A raposa astuta, ciclopes, nós estamos presos numa caixa para idiotas
os espaços para vídeos, banda larga, as conspirações de Waco Davidian
eles controlam YouTube, MySpace, quando essa merda ignorante vai parar?
eles monopolizam as notícias, o que nós vemos, e o canal que escolhemos
Propaganda, câncer visual, o olho no céu, o número cinco do telefone
agenda secreta, freqüência na antena, o doutor que deixa sua mente chapada
controle remoto, controlador de almas, que trava o seu cérebro
cultura escravista, o jogo acabou
qual a característica de uma raposa? conversa fiada, sensacionalismo
informações incorretas, explore a estação, recepção, decepção
Comcast o Satã digital, a raposa tem uma cauda atenta
e Bush conta mentiras, então eu não sei o que é verdadeiro

[ Refrão ]
Tenha cuidado com o que você está assistindo
a Fox continua nos alimentando com toxinas
pare de vacilar, comece a pensar por si mesmo
desligue a doutrina de Matrix
Cuidado com o que você diz, o Big Brother está te vigiando
Tenha cuidado com o que você está assistindo
a Fox continua nos alimentando com toxinas
pare de vacilar, comece a pensar por si mesmo
desligue a doutrina de Matrix
mas cuidado com o que diz, Fox 5 está te vigiando

[ Verso 2 ]
O Fator de Risco deixou todos nós irritados
O'Reilly, oh é sério? Não precisa de disputa, eu vou acabar com você
internet para predatores de crianças, armando para elas
cafetões, vadias e prostitutas no MySpace
todos vocês exploram a cultura do rap, depois ganham dinheiro em cima disso
e você é dono do posto, e depois pisam em nós
qual é o valor disso?
eles vão tentar censurar meu próximo verso?
vou colocá-los na forca primeiro
enquanto eu clico no meu cursor
lendo em blogs sobre a pressão que eles colocaram na Universal
e tudo vai piorando enquanto eu continuo clicando
enquanto eles tentam atingir minha casa
eles já nos perceberam, o porquê de um negro ir para o Sul
ou então ele vira cadáver, não durma, eles estão vigiando!
eu assisto CBS, e eu vejo um monte de besteira
tentando nos vigiar com GPS
faz com que um negro queira investir na PBS (emissora não-comercial dos EUA)

[ Refrão ]

[ Verso 3 ]
Eles dizem que eu só falo sobre mortes e assassinatos
mas o que você fala sobre Grindhouse e Kill Bill?
e sobre Cheney e Halliburton?
os acordos a portas fechadas, em campos de petróleo
como que o Nas pode ser a pessoa mais violenta?
vocês não reconheceriam talento nem se ele passasse na frente de vocês
desenterrando todos os meus problemas com a justiça
eu uso Viacom como minha arma
e deixo as rimas partirem você ao meio
em quem você confia?
eles cospem balas em Leviatã
eu estou lidando com uma forma superior
foda-se se você se importa em como eu escrevo um poema
a única raposa que eu gosto é aquela vermelha
a Fox só gosta de negros quando estão na cadeia ou mortos
assassinato, loucuras políticas
não deixe a moda controlar seus olhos e seus ouvidos
Murdoch na Fox, não 18 com Barracas
e ele odeia Barack porque ele marcha com os protestantes

[ Outro ]
Eu juro fidelidade à verdade justa e equilibrada
não à verdade manipulada
nâo à verdade dos mentirosos
mas à verdade superior
eu não serei massacrado
nem vou acreditar na propaganda
eu não vou me curvar perante o chefão
eu estou ligado

[ Refrão ]

quarta-feira, 9 de julho de 2008

T.H.U.G. Angelz: Welcome To Red Hook Houses

T.H.U.G. Angelz é um grupo formado por Hell Razah e Shabbaz The Disciple, dois dos nomes mais conhecidos de toda a legião de afiliados do Wu-Tang. Ano passado, Razah lançou dois álbuns muito elogiados pela crítica, enquanto Shabbaz alcançou seu reconhecimento no disco de estréia do Gravediggaz, com uma participação monstruosa no primeiro single do disco. Agora, os dois se juntam para homenagear o bairro onde cresceram em Nova Iorque.

Com a produção entregue a nomes pouco conhecidos - Bronze Nazareth e a dupla Blue Sky Black Death são os mais sonantes - o álbum sofre um pouco de falta de coesão. O problema é que não existe um caminho definido a ser seguido, não há uma atmosfera no álbum. Músicas lentas e sombrias se intercalam com outras mais aceleradas, outras mais agressivas, e quebram o fluxo do disco. Por outro lado, a química entre Razah e Shabbaz é evidente: embora, no momento, Razah esteja um nível acima, ambos soam muito confortáveis trocando versos, mostrando um entendimento incomum, tanto nos refrões, quanto nas letras e nos conceitos.

Prova disso é The Obituary, produzida por Bronze Nazareth, com samples vocais e marcações pontuais da caixa dando o ritmo para os emcees falarem sobre um amigo falecido. Na épica 144,000, os dois cospem milhares de referências bíblicas e religiosas, em perfeita sintonia. South Brooklyn é uma ode ao bairro dos caras, com um refrão muito bom de Shabbaz. Para finalizar, Audiobiography, que já havia aparecido em Razah's Cube, último álbum de Hell Razah, é remixada pelo coletivo Blue Sky Black Death, que dão um clima mais nostálgico à faixa, uma das melhores do álbum, na qual eles falam sobre como muitos emcees renomados copiaram algumas de suas idéias.

Enfim, mesmo com uma produção abaixo do esperado, Razah e Shabbaz conseguem superar as dificuldades com o incrível entrosamento que demonstram. Rimas e flows de alto nível, e uma homenagem interessante ao lugar onde cresceram. Embora o império Wu-Tang esteja cada dia mais em decadência, projetos como este mostram que o legado de RZA e companhia é, realmente, eterno.

T.H.U.G. Angelz - Welcome To Red Hook Houses
1. Cab Ride (Opening)
2. Welcome To Red Hook Houses
3. Jail Saga
4. The Obiturary (E.B.G.G.)
5. My Brothers Keeper
6. Gang Love
7. South Brooklyn (The Anthem)
8. Audiobiography Remix
9. Apt. 7G (Blacksmiths)
10. The Visit feat. 7th Ambassador
11. Under The Wing
12. Confessions Of A T.H.U.G. Angel (Closing)
13. 144,000

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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Shawn Jackson: First of All...

Shawn Jackson é um emcee da Califórnia, na Costa Oeste, novo na cena norte-americana. Este é o primeiro álbum do cara, que já vem ganhando vários elogios entre os blogueiros gringos. O disco conta com produções de beatmakers conhecidos da região, como Mekalek, Jack Sample, Newman e Thes One - este último, membro do People Under The Stairs.

Talvez pelo fato de ter usado produtores do Oeste, o disco tem aquele som típico da região nos anos 90, mas ainda assim com um toque de atualidade que torna os beats irresistíveis. São instrumentais pesados e, ao mesmo tempo, suingados, cheios de groove e pra cima. Os melhores exemplos são Soopafly, um beat atmosférico, puxado por uma guitarra e um refrão cantado; a suingada Fix Ya Face, com um loop viciante; e Feelin Jack, com um sample vocal e sintetizadores pontuais. Em alguns momentos, os beats ficam mais acelerados e pesados, como em Backstage e Maan Up!, esta última talvez o maior destaque do álbum, com um instrumental belíssimo, ao mesmo tempo agressivo e suave, com boas participações de Taraach e Big Tone.

Líricamente, não posso falar muito sobre Shawn Jackson, mas sua seleção de beats e flow casam perfeitamente, além da capacidade de construir um disco extremamente coeso e consistente. Sem dúvida, este emcee ainda fará bastante barulho na cena underground e - por que não? - até mesmo no mainstream. Bom gosto para beats com potencial radiofônico, mas com aquela essência e originalidade independente: esta é a receita de First of All.

Shawn Jackson - First of All
01. How Ya'll Feel??
02. First Of All...
03. Soopafly (feat. Ty & Kory)
04. Fix Ya Face
05. Traveling Salesmen (feat. Comel Of Time Machine)
06. Gold Medal Kids (feat. Beloved & Comel)
07. Backstage
08. Strategies (feat. Guilty Simpson)
09. Go There With You (feat. Ty & Kory)
10. Feelin' Jack
11. Countdown
12. Hate Down
13. Maan Up! (feat. Taraach & Big Tone)

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Vídeo da faixa Feelin Jack:


Vídeo da faixa Soopafly:

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Nas: Untitled

Finalmente vazou o álbum completo. Durante os últimos dias, vazaram várias faixas do álbum e eu estava até preparando um arquivo advance para postar, mas depois saiu a versão completa. Este é o nono álbum de Nas, que, depois de Hip Hop Is Dead, resolveu fazer mais um álbum com um conceito polêmico. A idéia inicial era falar sobre os negros, chamando o disco de Nigger. Com as várias manifestações contrárias e ameaças, ele resolveu mudar o título para Untitled - que significa sem título, em inglês -, mas não mudou o conceito do álbum.

Líricamente, Nas vem inspirado, e seguindo realmente o conceito do álbum, algo que faltou um pouco em Hip Hop is Dead. Com este álbum, o cara que fez Illmatic resolveu tomar para si, definitivamente, o papel que foi de 2Pac no começo da década de 90: a voz do gueto. Esse papel é ainda mais relevante no hip hop atual, onde poucos buscam esta responsabilidade. Em Hero, o single oficial, é bem marcante esta tomada de consciência por parte de Nas. Outro fator interessante no álbum é que Nas não torna o tema cansativo, pois cada faixa engloba o mesmo assunto a partir de um ângulo diferente. Assim, temos uma metáfora entre negros e baratas em Project Roach, a análise sobre a possibilidade de os EUA terem um presidente negro em Black President, mensagem de incentivo em We're Not Alone, e assim em diante.

Quanto aos beats, o grande problema dos últimos álbuns de Nas, esse problema parece ter sido amenizado, com o emcee escolhendo beats mais lentos, com um quê orgânico misturado a outros beats com mais apelo comercial. O resultado é interessante e rende algumas jóias, como Hero, de Polow Da Don, com bom potencial radiofônico sem deixar a mensagem de Nas de lado; Y'all My Niggas, com um sintetizador estiloso, e Fried Chicken, com metais discretos, representam o lado orgânico do disco, com uma levada setentista, enquanto Testify e We're Not Alone representam os beats mais lentos e complexos do álbum.

As falhas foram poucas. Chris Brown e The Game na pop Make The World Go Round, com o jovem cantor pedindo para as "meninas irem até o chão" soa um pouco fora de lugar em um disco que se propõe debater um tema tão sério e importante. You Can't Stop Us Now é outra faixa que desaponta, porque usa o mesmo sample - usado da mesma forma, também - do último single de RZA, You Can't Stop Me Now. Sample este que já foi usado várias vezes antes dos dois artistas. Totalmente desnecessário. Por fim, stic.man, do Dead Prez, saiu-se bem como produtor, mas, devido até mesmo ao seu estilo, poderia ter participado também no microfone. Seria um ingrediente interessante.

Enfim, Untitled é um álbum bastante consistente, e que deve melhorar a cada vez que você ouví-lo. Bons conceitos, letras inteligentes, beats - finalmente! - bem escolhidos, e um dos melhores emcees de todos os tempos no microfone. Como ele diz no final de Hero, "não importa o nome do álbum, eu sou invencível".

Nas - Untitled
01. Queens Get The Money (Produced by Jay Electronica)
02. You Can’t Stop Us Now (Featuring Eban Thomas of The Stylistics & The Last Poets) (Produced by Salaam Remi)
03. Breathe (Produced by J. Myers & Dustin Moore)
04. Make The World Go Round (Featuring Chris Brown & The Game) (Co-produced by Cool & Dre & The Game)
05. Hero (Featuring Keri Hilson) (Produced by Polow Da Don)
06. America (Produced by Stargate)
07. Sly Fox (Produced by stic.man of Dead Prez)
08. Testify (Produced by Mark Batson)
09. N.I.G.G.E.R. (The Slave And The Master) (Produced by DJ Toomp)
10. Untitled (Produced by stic.man of Dead Prez)
11. Fried Chicken (Featuring Busta Rhymes) (Produced by Mark Ronson)
12. Project Roach (Featuring The Last Poets) (Produced by Eric Hudson)
13. Ya’ll My Niggas (Produced by J. Myers)
14. We’re Not Alone (Featuring Mykel) (Produced by stic.man of Dead Prez)
15. Black President (Featuring Johnny Polygon) (Produced by DJ Green Lantern)

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Vídeo da faixa Hero: